
Todos tentam entender o que pode estar por trás das aparentes ações estabanadas de Donald Trump e, praticamente, 100% dos analistas, inclusive os conservadores, tentam refletir qual o verdadeiro plano de Trump, afinal, faz algum sentido as decisões do presidente dos Estados Unidos, tomadas neste início de seu segundo mandato presidencial? Quais os verdadeiros planos de Donald Trump no comando dos Estados Unidos da América?
Com ares de reality shows, Donald Trump anunciou seu “tarifaço” contra todos os países do mundo, inclusive seus aliados, e tem o potencial de gerar um verdadeiro caos na economia global.
Sem entrar nos detalhes de números, que a essa altura todos vocês já tomaram conhecimento, vamos tentar entender qual a provável estratégia por trás do caos que Trump acaba de anunciar.
Se eu fosse resumir, diria para vocês que ele quer destruir a ordem econômica mundial da forma que temos hoje, onde seu país já perdeu a hegemonia, para depois, os Estados Unidos emergirem com uma posição relativa mais forte, talvez hegemônica novamente, mas como diria aquela frase popular, a qual acrescento um detalhe: “ele pode ser louco e mal educado, mas não é burro”.
Primeiro vou explicar, na minha opinião, por que o caos que ele quer gerar pode fazer sentido. Depois, vou explicar, por que creio que não dará certo.
Vamos relembrar a história novamente. As guerras sempre alteram a ordem mundial vigente. Foquemos nas últimas: a Segunda Guerra Mundial e a guerra fria. A segunda guerra destruiu boa parte das nações desenvolvidas e suas indústrias e, para reconstruir esses países, foi assinado em 22/07/1944, um famoso acordo de Bretton Woods, na cidade Americana de mesmo nome. Neste acordo, o câmbio seria fixo e atrelado ao dólar americano que por sua vez teria o seu Lastro em ouro, nenhum dos países destruídos pela guerra poderia levantar Barreiras protecionistas para reconstruir a sua indústria e teriam acesso ao mercado americano.
Logo em seguida, para apoiar o Japão e algumas nações aliadas, foi criada a OTAN. Desta forma, como se viu, o acordo de Bretton Woods deu certo e a economia mundial se reergueu caminhando por um longo período de prosperidade econômica e estado de bem-estar social.
Passado um tempo, os países estavam se desenvolvendo e os Estados Unidos vendo sua hegemonia econômica ser ameaçada impôs o acordo de Plaza em 1985 para depreciar o dólar americano em relação às moedas desses do Japão, da Suíça e da França, garantindo, mais uma vez, a hegemonia Americana, gerando o enfraquecimento do bloco soviético, que viria a cair no início da década de 1990, impondo-se uma nova ordem global.
Inicia, então, a ordem neoliberal comandada por Ronald Reagan e Margaret Thatcher. O arranjo neoliberal era caracterizado por tarifas baixas, livre fluxo de capitais e câmbio flexível. O mundo entra, então, em uma nova dinâmica econômica, assim como Bretton Woods permitiu que a Alemanha e o Japão se reconstruíssem, se tornando, inclusive, as maiores potências industriais em seus continentes. A nova ordem neoliberal permitiria que outros países, seguindo a cartilha de Washington, também se industrializassem, criando novos mercados para os Estados Unidos com as potências desenvolvidas domadas pelo acordo de Plaza.
A cartilha neoliberal, do livre mercado, agora, abriria novos mercados para os Americanos que, com a vantagem competitiva dos outros países em desenvolvimento, não teriam dificuldades para explorar as nações mais fracas. A economia industrial Americana ficaria, relativamente, menor se comparada ao pós guerra mas tornaria o dólar mais forte frente às moedas desses países, o que possibilitaria aos Estados Unidos da América expandir sua presença militar por todo o globo e atingir o seu objetivo de ser a polícia do mundo.
Como afirmei, a industrialização de outros países subdesenvolvidos foi possível pelo câmbio flexível que tornou o dólar mais forte, mas desindustrializou, ainda mais, a economia dos Estados Unidos. Mas porque eles fizeram isto, o dólar mais forte enfraqueceu a indústria Americana, mas fortaleceu o capitalismo financeiro. O dólar mais forte tornou os ricos do país ainda mais ricos, mas consequentemente, empobreceu mais a classe média Americana e tornou os pobres mais pobres.
Cabe, aqui, uma observação importante: os industriais estadunidenses tinham o objetivo de levar suas indústrias para fora do país para explorar mão-de-obra barata em outras nações e, ao mesmo tempo, enfraquecer os sindicatos dos trabalhadores nos Estados Unidos. Não à toa, a desigualdade econômica e social dos Estados Unidos só aumentou desde a revolução neoliberal. O acordo de Bretton Woods alçou a hegemonia dos Estados Unidos e criou outras potências industriais, com destaque para o Japão e a Alemanha.
Nos dias atuais, o que Trump está fazendo é forçando a criação de uma nova ordem mundial. Essa nova ordem irá, pelo que especulam, ser o acordo de Mar a Lago, numa nova versão do acordo de Bretton Woods. Controlar o câmbio para desvalorizar o dólar, reeindustrializar a economia Americana. Para isto, ele precisa destruir a ordem neoliberal, destruir o livre mercado, levantar barreiras protecionistas, forçar a manutenção da hegemonia do dólar. Em síntese, ele quer destruir o mundo como é hoje e destruir a ordem política e econômica atual e construir a sua nova ordem.
Trump adota a estratégia de gerar um caos. Quer enfraquecer o multilateralismo pois este não dá vantagem de negociação aos Estados Unidos, que era um mundo sem regras, pois, onde não há regras, quem manda é o mais forte. Quer gerar um caos para negociar bilateralmente e impor a sua vontade. Trump almeja ter superávits comerciais com todos os países. Seu “tarifaço” foi calculado com base no déficit comercial e não faz sentido pois os Estados Unidos precisam ter déficit comercial para que o mundo tenha dólares e os Estados Unidos tenham superávit na conta de capitais.
Se ele quer manter a hegemonia do dólar, seu país precisa ter déficits comerciais. Vê-se que alguns pontos, ainda, são nebulosos na sua estratégia, mas o que analisei aqui, parece ser o pano de fundo de suas ações.
No entanto, o acordo de Mar a Lago não é o de Bretton Woods. Não estamos na década de 1950, onde o mundo estava destruído e desindustrializado. O retorno ao mercantilismo não é mais possível. Hoje, temos uma forte interligação nas cadeias globais de suprimentos, os países são industrializados e não vão se submeter aos caprichos e a falta de educação de Donald Trump.
Além disto, acordos pressupõe confiança e ninguém confiará em alguém que trai os seus aliados mais próximos. Donald Trump é um destruidor da evolução, um reacionário tosco. O mundo vai se reorganizar sem os Estados Unidos mas teremos tempos difíceis pela frente.
Ninguém sairá ileso!!!