
Na última semana, uma movimentação chamou atenção dos investidores e analistas: o dólar recuou fortemente, atingindo patamares que há muito não se via, enquanto a bolsa brasileira renovou suas máximas históricas. Mas por trás dos números frios, há narrativas e tendências que merecem um olhar mais apurado – principalmente quando o assunto envolve a sempre delicada relação entre os juros brasileiros e americanos.
O Ibovespa não apenas superou resistências técnicas (quando se ultrapassa pontos relevantes na alta do gráfico), como ganhou força e atravessou recordes de pontos, embalado pelo otimismo de investidores estrangeiros.
De um lado, as expectativas inflacionárias controladas e dados positivos na atividade econômica. De outro, a entrada robusta de capital externo, impulsionada pelo provável início de ciclo de queda dos juros no Brasil e pela busca de oportunidades em mercados emergentes. O governo está conseguindo controlar a inflação, a massa salarial dos empregados subiu, o desemprego caiu e o otimismo está se configurando.
Hoje, mesmo, publiquei uma brincadeira em meu instagram (@rios de dinheiro) que “Quem entrou apostando contra o Brasil nos meses, perdeu”. Mas, a grande realidade de quem tem experiência no mercado financeiro é de que deve-se manter, sempre, a cautela e a vigilância: volatilidade externa segue elevada, e decisões de política monetária nos EUA ainda são carta embaralhada.
O otimismo é que “vai ter Disney” porque a moeda americana, que já foi protagonista de alta volatilidade recente, cedeu com força frente ao real. Motivos? O fluxo de recursos estrangeiros em busca da rentabilidade – ainda alta – das aplicações brasileiras e a expectativa de novos cortes da Selic. Além disso, a percepção de risco-país diminuiu, ainda que permaneça o alerta em relação às contas públicas.
Mais do que um movimento isolado, a queda do dólar dialoga com um contexto global de reprecificação das moedas, à medida que o Federal Reserve (FED) – como se fosse o COPOM brasileiro -, sinaliza o fim do ciclo de aperto monetário.
No front dos juros, enquanto o Brasil já sinaliza o início do ciclo de cortes da Selic, que atualmente está em níveis ainda elevados (15%), os EUA optam por um primeiro corte de juros. O FED mantém taxas altas, batalhando para domar a inflação persistente por lá.
Aqui, a queda da SELIC é vista como pressão para empresas e consumidores porque tudo se torna mais caro, com o custo de capital elevadíssimo (em um texto futuro explicarei o porquê deste patamar elevado e a minha opinião sobre o tema). Menores juros tornam o real menos atraente para investidores, mas o carry trade (estratégia de buscar retornos onde há diferença significativa nas taxas de juros entre países) ainda favorece o Brasil frente a outros mercados.
Já nos Estados Unidos, a sinalização de corte dos juros acaba desvalorizando o dólar porque os investidores irão procurar países emergentes para rentabilizar o seu capital e o Brasil é um dos mais procurados. Resta saber: até onde vai o fôlego da bolsa brasileira? E o real, terá terreno para continuar “derretendo” o dólar?
O cenário é de céu claro, mas todo piloto experiente sabe: turbulências, cedo ou tarde, aparecem no radar. Para o investidor, cautela segue sendo palavra de ordem – ainda que no momento, o clima seja mesmo de festa no mercado local. Aproveitemos a alta da bolsa, mas mantenhamos a cautela de sempre.