BNDES bloqueia mais de R$ 800 milhões em crédito rural para áreas com desmatamento ilegal

Por Redação 06/06/2025, às 02h08 - Atualizado 05/06/2025 às 16h53

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) barrou, desde 2023, cerca de R$ 806,3 milhões em financiamentos solicitados por produtores rurais com indícios de desmatamento ilegal em suas propriedades. A marca representa quase R$ 1 milhão por dia em crédito evitado, segundo balanço divulgado nesta quarta-feira (5), no Dia Mundial do Meio Ambiente.

Os dados são fruto da parceria entre o BNDES e o MapBiomas, que monitora os biomas brasileiros por satélite e fornece alertas automatizados ao banco. De fevereiro de 2023 até agora, foram 3.723 alertas ativos, o que corresponde a 1% das 337,2 mil solicitações de crédito rural analisadas nesse período.

A triagem rigorosa atinge operações com recursos subsidiados de programas agropecuários do governo federal, da linha BNDES Crédito Rural e financiamentos classificados como crédito agrícola pelo Banco Central.

Tecnologia como aliada

A tecnologia da plataforma MapBiomas permite ao banco cruzar automaticamente dados de geolocalização com alertas de desmatamento ilegal, produzindo laudos com imagens de alta resolução e conectando essas informações ao Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar). Só em abril de 2025, R$ 25 milhões em crédito foram evitados devido à detecção de irregularidades.

“O BNDES segue sendo parceiro do agronegócio, mas não do desmatamento. O crédito rural precisa impulsionar a produção com sustentabilidade. O tempo do financiamento para quem desmata já passou”, afirmou o presidente do banco, Aloizio Mercadante.

Norte e Nordeste lideram bloqueios

A região Norte teve o maior percentual de crédito rural bloqueado: 2,2% dos R$ 4,3 bilhões pedidos, com alertas em 2,5% das solicitações. Já o Nordeste liderou em proporção de alertas, com 2,8% das mais de 9,4 mil demandas, o que resultou em 1,6% dos R$ 5,95 bilhões sendo recusados.

No Sul, foram barrados 0,9% dos R$ 42,3 bilhões pedidos, enquanto o Sudeste teve o menor índice de bloqueio: apenas 0,4% dos R$ 15,4 bilhões solicitados. No Centro-Oeste, os bloqueios atingiram 0,8% do total demandado, com alertas em cerca de 1% das propostas.

Entre os estados, o Amazonas lidera: 6,25% das solicitações apresentaram alertas, e 12,6% do valor pretendido — cerca de R$ 13 milhões — foi negado. Outros estados com altos percentuais de crédito evitado incluem Tocantins, Acre e Rondônia, além de seis estados nordestinos: Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Ceará. Apenas o Distrito Federal e o Amapá não registraram alertas.

Regras mais rígidas que o Banco Central

As regras ambientais do BNDES são mais rigorosas que as do Manual de Crédito Rural (MCR), do Banco Central. Enquanto o MCR veda financiamento apenas para áreas embargadas diretamente beneficiadas, o BNDES bloqueia recursos a produtores com embargos ativos em qualquer propriedade sob seu nome, salvo apresentação de documentação que comprove medidas efetivas de regularização.

Caso o embargo ocorra após a contratação do crédito, a liberação de recursos é suspensa até regularização. Se isso não for resolvido em até 12 meses, a operação é encerrada de forma antecipada. Medidas descumpridas também resultam no cancelamento do financiamento em até 30 dias.
Atualmente, o BNDES atua com uma rede de 70 instituições financeiras credenciadas e atende produtores rurais em 95% dos municípios brasileiros. A aliança com o MapBiomas fortalece o compromisso do banco com uma agropecuária produtiva e ambientalmente responsável.