Discutir finanças também é uma forma de cuidar da saúde mental

Foto de Fernando Santiago Fernando Santiago 07/08/2025, às 13h32 - Atualizado às 13h32

Falar sobre saúde mental se tornou um hábito cada vez mais comum e, muitas vezes, necessário na sociedade contemporânea. Desde a pandemia, questões como ansiedade, depressão, Burnout e outros transtornos psíquicos ganharam visibilidade, abrindo espaço para discussões mais abertas. No entanto, ainda é preciso aprofundar a compreensão sobre os múltiplos fatores que impactam esse cenário, muitas vezes de forma silenciosa e complexa. Entre eles, destaca-se um tema que ainda carrega certo tabu: o dinheiro.

Discutir finanças também é uma forma de cuidar da saúde mental. A abordagem preventiva tão valorizada nas áreas da saúde se aplica perfeitamente ao contexto financeiro. Identificar riscos e agir antes que se agravem é essencial. Pessoas que vivem em situação de instabilidade econômica frequentemente relatam sintomas de ansiedade e depressão. Essa relação é ainda mais marcante nas classes média e baixa, e não se resume apenas ao valor da renda: estudos apontam que um aumento de apenas 10% no rendimento mensal pode gerar melhorias significativas na saúde mental. Contudo, sem educação financeira, mesmo o aumento de renda pode se tornar ineficaz. O descontrole orçamentário, especialmente entre jovens e populações de baixa renda, leva ao endividamento crônico e à perpetuação do estresse financeiro.

No Brasil, esse desafio se intensifica diante de um cenário de desigualdades persistentes. O acesso limitado a serviços de saúde, combinado ao alto índice de inadimplência que atinge cerca de metade da população adulta escancara a urgência de combater a baixa alfabetização financeira. Iniciativas bem-sucedidas em países como Canadá e Holanda mostram que é possível mudar esse panorama. Lá, a educação financeira foi reconhecida como um dos pilares da promoção da saúde mental, com ações coordenadas entre os setores público e privado. Ferramentas de controle financeiro, programas de orientação orçamentária familiar e conteúdos escolares específicos têm sido implementados de forma contínua e acessível.

É claro que o Brasil tem realidades e desafios próprios, que exigem estratégias sensíveis e contextualizadas. Mas os exemplos internacionais mostram que há caminhos possíveis. Promover a educação financeira não é apenas formar consumidores mais conscientes é também uma forma de aliviar a pressão sobre os serviços de saúde mental e, sobretudo, de oferecer às pessoas mais autonomia para viver com dignidade e equilíbrio.