Uso indiscriminado de vitaminas e suplementos: riscos à saúde baseados em evidências

Foto de Iura Gonzalez Iura Gonzalez 02/09/2025, às 21h05 - Atualizado às 21h05

O consumo de vitaminas e suplementos sem indicação clínica específica tem se expandido de forma significativa nas últimas décadas, impulsionado por campanhas de marketing e por crenças populares equivocadas sobre seus supostos benefícios generalizados. No entanto, a literatura científica contemporânea é clara ao demonstrar que apesar de populares, multivitamínicos e suplementos geralmente não apresentam benefícios clínicos comprovados para pessoas saudáveis com alimentação equilibrada.

Um estudo recente envolvendo três grandes coortes de quase 390 mil participantes demonstrou que o uso diário de multivitamínicos não reduziu a mortalidade; pelo contrário, foi associado a um risco de 4 % maior de morte nas fases iniciais do seguimento.

Revisões sistemáticas também apontam que suplementos como vitamina D, cálcio, antioxidantes – vitamina C – e multivitamínicos, isoladamente ou em combinação, não diminuem a mortalidade geral, nem o risco de doenças cardiovasculares ou câncer. Há ainda indícios de efeitos adversos, como aumento do risco de AVC hemorrágico com vitamina E, de fraturas de quadril com vitamina A, e de cálculos renais com vitamina C ou cálcio.

Além disso, há evidências robustas de neurotoxicidade associada a megadoses de vitaminas do complexo B.

Outro ponto crítico refere-se ao uso de suplementos voltados para emagrecimento e ganho de performance física. Dados epidemiológicos indicam que esses produtos estão associados a um risco significativamente maior de eventos médicos adversos, incluindo hospitalizações, em populações jovens. Esses suplementos, muitas vezes vendidos sem prescrição, podem conter substâncias estimulantes, adulterantes ou combinações farmacologicamente ativas não declaradas nos rótulos, aumentando o risco de toxicidade aguda.

Nesse sentido, cresce também a preocupação dos cientistas acerca das interações farmacológicas relevantes entre determinados suplementos e medicamentos de uso contínuo, especialmente em pacientes com comorbidades.

Diante desse panorama, o uso de vitaminas e suplementos deve ser reservado a situações específicas, como deficiências nutricionais comprovadas por exames laboratoriais, condições clínicas que justifiquem a reposição (como gestação, dietas restritivas ou síndromes de má absorção) e sempre com acompanhamento profissional qualificado.

A banalização do consumo e o uso indiscriminado, especialmente em doses elevadas e por longos períodos, representam um risco evitável à saúde individual e coletiva, exigindo uma abordagem crítica, baseada em evidência científica de qualidade.