
Por muito tempo, falar de saúde era falar apenas de doença. A Classificação Internacional de Doenças (CID) cumpre esse papel há mais de um século, organizando os diagnósticos de forma padronizada. Mas, em 2001, a Organização Mundial da Saúde propôs um novo olhar: a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde — a CIF.
A CIF não substitui a CID, mas se soma a ela oferecendo outro tipo de diagnóstico: o diagnóstico funcional. Ela nos permite entender o impacto real da condição de saúde na vida da pessoa. Ela ajuda a responder perguntas como: essa doença está causando alguma limitação? Esse indivíduo consegue realizar suas atividades diárias? Ele participa da vida social como gostaria?
Com a CIF, passamos a observar as estruturas e funções do corpo, como a força de um músculo, a execução de atividades como caminhar ou subir escadas, e a participação social — como o simples fato de visitar amigos ou frequentar um culto religioso. Tudo isso importa, e muito.
O grande valor da CIF está em revelar que nem toda doença gera disfunção, e nem toda disfunção depende de uma doença. Uma hérnia de disco, por exemplo, pode existir sem causar limitação, enquanto outra pessoa pode apresentar dificuldade funcional mesmo sem um diagnóstico clínico. Mais preocupante ainda é quando a própria pessoa se reduz ao que está escrito em seu laudo, deixando de explorar suas reais capacidades.
A CIF também questiona a forma como tratamos o envelhecimento. Muitas vezes, limitamos o idoso antes mesmo de avaliar suas capacidades. A pergunta não deveria ser “ele pode subir escadas?”, mas sim “ele tem estrutura e função para isso?”. Se não tem, pode treinar, adaptar, recuperar. Funcionalidade se trabalha — e isso muda tudo.
Mais do que uma ferramenta técnica, a CIF é um instrumento de utilidade pública. Ela amplia nossa compreensão sobre o ser humano e nos convida a enxergar a saúde de forma mais completa: não só pelo que falta, mas pelo que ainda é possível fazer.