Saiba por que a próxima cúpula do Mercosul pode impactar tarifas

Por Redação 27/06/2025, às 04h08 - Atualizado 26/06/2025 às 21h12

A cúpula de chefes de Estado do Mercosul, marcada para os dias 2 e 3 de julho em Buenos Aires, deve marcar uma série de decisões que podem mexer diretamente com tarifas de importação, pautas ambientais e o futuro dos acordos internacionais do bloco.

Entre os principais pontos da agenda está a ampliação temporária da lista de exceções à Tarifa Externa Comum (TEC). A mudança permitirá que cada país membro — Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia — possa aplicar tarifas diferenciadas em até 150 códigos tarifários, número 50% maior do que o permitido atualmente. A flexibilização vale até 2028 e foi solicitada principalmente pela Argentina, que enfrenta dificuldades econômicas e busca maior margem para ajustar tarifas conforme suas necessidades internas.

Segundo a embaixadora Gisela Padovan, do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, a medida atende a um pedido argentino, mas foi mediada pelo governo brasileiro, que propôs critérios técnicos para a definição dos produtos. Os detalhes só serão divulgados após a assinatura da resolução durante a cúpula.

A reunião também marcará a transição da presidência rotativa do bloco da Argentina para o Brasil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajará a Buenos Aires para assumir o comando do grupo pelos próximos seis meses, com promessa de priorizar uma agenda verde e a retomada da cooperação ambiental.

Lula pretende convocar uma reunião de ministros do Meio Ambiente e levar uma mensagem conjunta à COP30, reforçando a importância da ação climática na região. “O diálogo é a melhor solução”, afirmou Gisela Padovan, ao ser questionada sobre possíveis divergências com a postura ambiental da gestão do presidente argentino Javier Milei, que adota um discurso cético sobre mudanças climáticas.

Acordos comerciais e diplomacia ativa

No campo diplomático, o foco do Brasil será a finalização do acordo entre Mercosul e União Europeia, que está em fase de internalização, mas ainda enfrenta resistência, especialmente da França. Além disso, o bloco quer avançar nas negociações com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) — formada por Islândia, Noruega, Suíça e Liechtenstein — e iniciar conversas com Canadá, Japão, Vietnã e Indonésia.

Outro destaque será o relançamento do Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (Focem). Criado para financiar obras de infraestrutura e desenvolvimento nos países do bloco, o fundo já viabilizou mais de US$ 1 bilhão em investimentos. A nova versão pretende ampliar esse alcance, sob liderança brasileira.

O Brasil também planeja fortalecer o Instituto Social do Mercosul e o Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos (IPPDH), visando maior envolvimento da sociedade civil e ampliação dos debates sobre justiça social e equidade no bloco.