Mãe Stella de Oxóssi faria 100 anos nesta sexta-feira (2)

Por Redação 02/05/2025, às 21h03 - Atualizado às 19h30

Nesta sexta-feira (2), completam-se 100 anos do nascimento de Maria Stella de Azevedo Santos, a Mãe Stella de Oxóssi, um dos maiores nomes do candomblé no Brasil e referência na defesa da cultura afro-brasileira. Ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, em Salvador, Mãe Stella foi a primeira sacerdotisa de uma religião de matriz africana a ocupar uma cadeira na Academia de Letras da Bahia, eleita por unanimidade.

Autora de nove livros, entre eles “Meu tempo é agora” e “Òsósi – O Caçador de Alegrias”, Mãe Stella foi uma voz ativa no combate ao racismo e na valorização das tradições religiosas de origem africana. Seu trabalho como escritora e líder espiritual consolidou um legado de resistência e preservação cultural.

Reconhecida por sua atuação intelectual e religiosa, recebeu títulos de doutora honoris causa da Universidade Federal da Bahia (Ufba), em 2005, e da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em 2009. Ao longo da vida, aliou o rigor da tradição ao diálogo com temas contemporâneos, como o enfrentamento ao sincretismo religioso, defendendo a autonomia e a identidade do candomblé.

Antes de assumir a liderança do terreiro, Mãe Stella atuou como enfermeira por mais de 30 anos, profissão que exerceu com dedicação até se tornar uma das mais influentes lideranças religiosas do país. No Ilê Axé Opô Afonjá, fundou o primeiro museu dentro de uma casa de candomblé, reunindo peças litúrgicas e objetos que hoje preservam a memória e a espiritualidade do culto.

Mesmo com posições firmes em relação à separação entre o candomblé e o catolicismo, manteve o diálogo inter-religioso e defendia a convivência pacífica entre todas as crenças, pautada no respeito mútuo. Para estudiosos como o antropólogo Vilson Caetano, a ialorixá foi um divisor de águas na história do candomblé, reconhecida por sua inteligência e diplomacia, virtudes herdadas de suas antecessoras, Mãe Aninha e Mãe Senhora.

Mãe Stella faleceu em dezembro de 2018, aos 93 anos, após complicações de saúde decorrentes de uma infecção urinária que evoluiu para insuficiência renal crônica. Sua trajetória segue viva como símbolo de luta, sabedoria e preservação da ancestralidade afro-brasileira.