
O governo de Luís Montenegro chegou ao fim nesta terça-feira (11), após o Parlamento rejeitar uma moção de confiança apresentada pelo próprio primeiro-ministro. Com 142 votos contrários e 88 a favor, Montenegro perdeu o apoio necessário para seguir no cargo, tornando-se premiê interino até que o presidente Marcelo Rebelo de Sousa defina os próximos passos.
Agora, cabe ao chefe de Estado decidir se convoca novas eleições antecipadas para maio, o que pode levar os portugueses às urnas pela terceira vez em pouco mais de três anos.
Crise política
A crise que culminou na queda do governo começou com questionamentos sobre os negócios da Spinumviva, empresa de consultoria fundada por Montenegro e atualmente administrada por seus filhos. A oposição acusa o ex-premiê de beneficiar a empresa por meio de um contrato com uma operadora de cassinos, que pagaria 4.500 euros mensais.
Diante da pressão, Montenegro resolveu testar sua força política no Parlamento com a moção de confiança. O movimento, no entanto, foi fatal para seu governo, já que o Partido Socialista (centro-esquerda) e o Chega (extrema-direita) se uniram para rejeitar a proposta, selando sua destituição.
Cenário de instabilidade
A situação política portuguesa continua imprevisível. Em janeiro de 2022, os eleitores elegeram António Costa, que renunciou em novembro de 2023 após uma operação policial. Na eleição de março de 2024, Montenegro venceu os socialistas por uma margem apertada de menos de dois mil votos.
Agora, um novo pleito parece inevitável, mas especialistas alertam que dificilmente um partido sairá com maioria suficiente para governar sozinho. Pesquisas mostram um cenário de empate técnico entre o Partido Social Democrata (PSD), de Montenegro, e o Partido Socialista, ambos com pouca margem de crescimento.
Para o cientista político Adelino Maltez, da Universidade de Lisboa, a única alternativa para restaurar a governabilidade seria um pacto entre os dois partidos, algo que só aconteceu uma vez na história recente do país, entre 1983 e 1985.
“O impasse é evidente. Se não houver acordo, Portugal enfrentará ainda mais instabilidade política”, avalia Maltez. Enquanto isso, a população se mostra desiludida com a situação. “Ninguém entende o motivo de tantas eleições seguidas. Os políticos se acusam mutuamente, mas todos são irresponsáveis”, desabafou João Brito, 70 anos, funcionário público aposentado em Lisboa.
A decisão final sobre o futuro político de Portugal dependerá das consultas que o presidente Marcelo Rebelo de Sousa fará com os partidos nos próximos dias.