Por Cíntia Santos
Com o objetivo de devolver o brilho do olhar e o amor-próprio a quem enfrentou o câncer, um studio em Salvador tem devolvido a diversas mulheres a alegria de seguir vivendo. O Studio Narjara criou o Projeto Pague com um Sorriso, uma iniciativa que oferece atendimentos gratuitos a pacientes oncológicos.
A ação nasceu inspirada em uma filosofia internacional e ganhou força própria em Salvador, unindo profissionais e alunas da micropigmentadora Narjara Vieira em um movimento coletivo de empatia e reconstrução.
Beleza como forma de servir
O projeto surgiu a partir da filosofia da PhiAcademy, instituição sediada na Sérvia e referência mundial em micropigmentação, onde cada profissional oferece um atendimento gratuito a quem precisa.
Narjara, única brasileira com técnica autoral reconhecida pela academia, decidiu ampliar a ideia. “Em vez de fazer sozinha, reuni minhas alunas e transformei em um projeto coletivo, com estrutura, propósito e continuidade. A beleza também pode ser uma forma de servir ao outro”, contou em entrevista exclusiva ao TakTá.
No estúdio localizado na Avenida Paralela, o Pague com um Sorriso oferece procedimentos como micropigmentação de sobrancelhas, alongamento de cílios, limpeza de pele e design com henna. Todos os atendimentos respeitam as condições de saúde e o estágio do tratamento de cada participante.
Devolver identidade e alegria
Entre os atendimentos, Narjara recorda histórias que marcaram a equipe. Uma delas foi a de uma mulher que havia perdido completamente as sobrancelhas durante o tratamento.
“Ela dizia que evitava se olhar no espelho porque não se reconhecia mais. Quando terminou o procedimento, se emocionou e disse: ‘agora posso voltar a me ver de verdade’. Naquele momento, entendi que não estávamos apenas desenhando sobrancelhas, estávamos devolvendo autoestima e identidade”, relembra.
Para a micropigmentadora, ver o sorriso e o brilho retornarem ao olhar das pacientes é o que dá sentido ao trabalho. “A estética é uma ferramenta de cura. É impossível não se emocionar com cada história”, afirma.
Rede de apoio e expansão
O projeto ainda não possui parcerias formais com instituições de saúde, mas a ideia é expandir. “Queremos construir uma rede com clínicas e hospitais que compartilhem da mesma visão, para alcançar mais pessoas que realmente precisam”, explica Narjara.
Segundo ela, o movimento já inspira alunas em outros estados e países, que começaram a aplicar a iniciativa de forma independente.
O papel da autoestima no Outubro Rosa
Durante o Outubro Rosa, a profissional reforça a importância de discutir não apenas a prevenção e o diagnóstico, mas também a reconstrução da imagem.
“A autoestima faz parte do tratamento. Ajudar essas mulheres a se reconectarem com quem são é fundamental. Olhar no espelho com amor também é uma forma de cura”, diz.
Força e recomeço
Com trajetória marcada pela superação — de um pequeno espaço na Vila Canária a um estúdio reconhecido internacionalmente —, Narjara diz que sua história se reflete nas pessoas que atende.
“Passei por fases difíceis e precisei me reinventar muitas vezes. Vejo essa força de recomeçar em cada uma delas. Ajudar alguém a se reerguer é relembrar de onde eu mesma vim”, afirma.
Para ela, devolver o sorriso é mais do que um resultado estético. “É devolver esperança, dignidade e a certeza de que a beleza nunca deixou de estar ali. O espelho não mostra a perda, ele mostra a coragem. E é essa coragem que ilumina tudo ao redor.”