Quem quer ter filhos obedientes?

Foto de Emerson Emerson 19/11/2024, às 19h39 - Atualizado 16/12/2024 às 16h46

Nos grupos de mães, reuniões escolares, tutoriais com “treinadores” de comportamentos infantis a pergunta que mais se repete é: “o que fazer para minha criança obedecer”? Mas, te faço outra pergunta: você já olhou para seu filho e se perguntou quem é essa pessoa em sua frente? O que ela pensa? Qual a opinião dela sobre o mundo (ao menos, o que o cerca)? O que ela acha sobre você?

Olhamos nossos filhos como nossa extensão, um pedaço nosso e assim o tratamos e, inconscientemente, os objetificamos. De fato, eles são nosso coração, nossa vida! Mas, esquecemos que aquele ser é uma outra pessoa, uma outra alma, com um temperamento, uma vivência e história só dela.

A colaboração, diferente da obediência, ocorre na conexão. Quando aquele outro, no caso nosso filho, se sente ouvido, numa relação recíproca, ele entende que o que ele traz é importante e levado em conta, que ele é respeitado como pessoa e que suas escolhas e comportamentos impactam a vida das outras pessoas do seu convívio. Ele não precisa lutar (ou “desobedecer”) para ser visto, ouvido, para existir!

Conexão requer pausa, respiração, estar no aqui e agora, interligada com aquela pessoa. Isso leva tempo e exige disponibilidade. Na sociedade do desempenho em que vivemos, onde os valores estão atrelados a fazer, produzir e acumular, sobra-se muito pouco tempo para se conectar. As famílias viraram “fami-ilhas”, habitando num mesmo lugar, com tablets, smartphones e telas preenchendo ilusoriamente necessidades de conexão e pertencimento.

As hierarquias são boas apenas quando assumimos que somos os responsáveis por uma alma, que nos ama muito, e precisamos cuidar dela com amor, respeito e compaixão. A hierarquia que vem com abuso de poder fere todas as relações, sejam elas de pais e filhos, homens e mulheres, professores e alunos. Crescemos numa cultura autoritária, onde o maior subjuga o menor. Repetimos comportamentos dos nossos antepassados, os quais nos feriram, sem nos darmos conta que também estamos fazendo o mesmo com quem mais amamos. Ficamos no discurso enganado do “apanhei e não morri”, “criança não tem querer”, e esquecemos (ou tememos entrar em contato com a dor) da perspectiva da criança que um dia fomos.

E, aqui, nada tem a ver com permissividade. A permissividade, tal qual o autoritarismo, faz parte da educação tradicional. São faces da mesma moeda. O adulto cede aos desejos da criança, não para beneficiá-la, mas sim para evitar o desconforto ou esforço pessoal. Esta é uma maneira do adulto evitar lidar com a frustração, seja pela sua falta de disponibilidade para esta criança, por medo de desagradar ou por não saber como corregulá-la.

Pais e mães são líderes e como tais, têm a função e responsabilidade de guiar e conduzir sua criança ao melhor caminho. Sustentar o “não”, com respeito e acolhimento, muitas vezes parece missão impossível para muitos adultos que não puderam, na sua infância, manifestar sua raiva, frustração e tristeza. Ver seu filho expressando essas emoções aciona gatilhos emocionais, os quais, muitas vezes, não estamos preparados para lidar ou, sequer, os reconhecemos. Repetimos o que crescemos ouvindo: “engula esse choro”, “quer motivo pra chorar de verdade?”, e, com esse discurso enganado perdemos a oportunidade de nos conectar e conhecer verdadeiramente nossos filhos, de construir uma relação de respeito, colaboração mútua e admiração, onde seremos autoridades, dignas de sermos imitadas.